terça-feira, 15 de abril de 2008

Bebê a bordo

Não sou mãe. E, durante muito tempo, não quis ser. Achava que ter filhos era uma coisa que ultrapassava a minha habilidade. Ao contrário da minha querida, não me imaginava grávida quando era pequena. Pra falar a verdade, sempre gostei de brincar mais com barbies do que com bebês. Um indicativo, segundo minha cunhada, que não desenvolvi um instinto maternal muito aguçado na infância. Tive poucas bonecas na vida. O que explica a minha total falta de habilidade com recém-nascidos, o medo de quebrá-los, a angústia de vê-los chorar, a impaciência com a birra, entre outras coisas.
Quando meu primeiro sobrinho nasceu, Luiz Felipe, vi uma luzinha se acender. Uma luzinha que dizia: “Ei, talvez bebês não sejam tão ruins...” Quando minha primeira afilhada, Duda, nasceu... foi incrível. Me sentia responsável por ela, queria ensinar coisas para ela e, algumas vezes, queria ela para mim... Quando Bia, minha segunda afilhada, veio ao mundo foi massa! A luzinha se transformou num luminoso com letras garrafais: QUERO SER MÃE!

Uma digressão, se me permitem...
Lembro de quando Érika ficou grávida. “Fudeu”. Foi a primeira coisa que me ocorreu. Na minha cabecinha bobinha de menina de 18 anos, recém-ingressa numa faculdade de comunicação e cheia de pretensões feministas e libertadoras, ficar grávida era a pior opção. Era estranho olhar para Érika e não ver um certo ar de desespero. Preocupação, sim. Plenitude, bastante. Desespero, nunca. E foi assim que eu vi minha querida ir se afastando da turma. Primeiro foram algumas cadeiras, uma marcação cerrada de um certo cientista político escroto, um barrigão que não parava de crescer. “É o fim da faculdade para ela”, pensava eu, tão bobinha...
Reencontramos-nos, alguns bilhões de anos depois. Estávamos na mesma situação: as últimas cadeirinhas para concluir o curso. As duas se encontravam no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa, lutando pelo mesmo objetivo. Érika, mãe de duas xarás minhas (uma de nome, outra de data de nascimento). Eu, ainda negando essa coisa de maternidade.
Sei que ela fica puta com essa história de que ela é foda. Sei que ela odeia esse estereotipo de mãe adolescente que venceu o preconceito, se formou e está construindo uma carreira, a despeito de tudo e de todos.
De fato, as pessoas são bem mais do que os arquétipos que se constroem em torno delas.
Bom, tudo isso só para dizer que de alguma forma essa história mexe muito comigo. Meus pais me tiveram quando tinham acabado de entrar na faculdade. Minha mãe trancou e retomou um curso de educação física várias vezes para poder cuidar dos filhos. Meu pai não passou do terceiro período de um curso de engenharia de não sei o quê. Segundo eles, o resultado disso tudo não poderia ser melhor. Não são nem mais nem menos bem-sucedidos na vida (em todos os aspectos) por causa dos três filhos que tiveram antes dos 25 anos.

Voltando...
Mas, na minha cabeça, filhos só viriam depois de ter conquistado um bom emprego, do mestrado e de ter comprado uma casa própria, no mínimo. Ah, e depois de ter viajado bastante também. Mal sabia eu que esses projetos de vida, como o próprio nome sugere, levam uma vida inteira para se concretizarem. E o tempo de uma vida é tempo suficiente para vários projetos andarem em paralelo.

Sim, queridos dois leitores imaginários, quero ser mãe. E não vou esperar pelo “momento certo” como se ele fosse um ponto específico, o resultado de um check-list que garante que a empreitada vai ser bem-sucedida. Tem gente que até diz que não existe momento certo... Eu não vou tão longe. Tenho algumas convicções que me guiam. A mais importante dessas convicções é a de que eu tenho duas pendências que precisam ser resolvidas antes da chegada da figurinha, que por sinal, já tem nome e sobrenome.

Um comentário:

Anônimo disse...

putz, isso foi um post profético?