quinta-feira, 3 de abril de 2008

Quadro na parede

Para uma parte significativa dos amigos que eu tenho, a experiência de ter morado fora de casa é um divisor de águas.
Tem Pam, que foi para a Alemanha estudar um semestre de RI e vai se formar por lá mesmo;
Tem Vívian, que foi estudar biologia em Salamanca;
Tem Taty, que foi pros EUA atrás do sonho americano, se casou e tá lá;
Tem ....

A lista é grande e eu não sei se vale a pena colocar todo mundo aqui.

O que acontece é que todos são unânimes em concordar que o choque cultural, a necessidade de se virar, o contato com o mundo fazem você crescer de uma maneira rápida, algumas vezes dolorosa, mas inesquecível.
Sair do ninho sempre foi meu objetivo. Conhecer o mundo, ter mais asas e menos raízes... Era tudo o que que queria (em parte, ainda quero sim).

E foi o que aconteceu... nada de glamuroso assim como um intercâmbio na Europa ou uma temporada se virando nos EUA. Eu fui mesmo é para Campina Grande (PB). Uma cidade assim... esquisita. Fui ser funcionária pública em Campina Grande... nada de viagens de metrô para saltar de um país para outro, nada de aventuras excitantes, nada de culinária exótica, nada de fotos-cartão-postal no álbum do orkut.

Campina Grande fica a exatos 200 km do Recife. É uma cidade que beira os 500 mil habitantes, a segunda maior da Paraíba. Tem o São João, que dura um mês inteiro. Campina Grande, na maioria das vezes, é um tremendo saco. Nos raros fins de semana que passo aqui, a sensação de marasmo é tão sólida, que dava para dividir em pequenas porções e levar com você em todos os lugares. O cinema passa sempre filmes umas três semanas atrasados, não existe um circuito alternativo de artes, as atrações turísticas não são nada atrativas (com o perdão do trocadilho nojento) e os bares estão sempre tocando forró. Nada contra, mas tem hora que enche.
Talvez por isso, não consegui fazer amigos em Campina Grande (mesmo "morando" aqui há exatos 15 meses). Vivo sempre com um pé em Recife, com os amigos de Recife, com as coisas de Recife. Nem médico eu tenho aqui.
Não consegui me desligar do Recife. O que não deixa de ser uma grande ironia....

Logo eu, tão enfática e resolvida a cair no mundo. Tão certa que meu destino era por aí... Não consigo aceitar meros 200 km de distância. Fico me perguntando se, em vez de Campina, eu estivesse em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro. A possibilidade de ir e voltar seria bem menor, mas será que a sensação de inadequação seria tão grande? Ou será que, ao acusar o bucolismo de Campina Grande como causa da minha inadaptação, eu estaria apenas acobertando o meu insucesso? Insucesso em me afastar de casa, dos pais, dos irmãos, da cidade, das coisas que até então criaram a minha identidade. Insucesso em arriscar viver uma vida longe dessas coisas todas. Insucesso por não aguentar a pressão...

Não sei.... talvez, nem vá saber. Mas não deixo de me perguntar isso a todo instante. Ás vezes, até eu me surpreendo com o rumo que a vida tomou. Com essa guinada louca.

Funcionária pública aos 25 anos, uma longa e estável carreira pela frente.

Era isso que eu queria? Era isso que eu planejava? Era esse meu sonho?

NÃO (bem sonoro, bem alto, bem claro, pra todo mundo ouvir).

Mas é nisso que eu me transformei...
Só que não é isso o que eu sou...

E eu (nem) sei quem eu sou.

E não se espantem, meus queridos dois leitores imaginários, se em pouco tempo uma nova guinada acontecer na minha vida.

Porque Campina Grande é só um quadro na parede. E não dói nada...

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